|
© Foto: BETO BARATA/PR
Governo promete retaliar 'infiéis' após votação de denúncia
|
BRASÍLIA - O governo está disposto a retaliar os deputados da base
aliada que não apoiarem o presidente Michel Temer na votação da segunda
denúncia contra ele, marcada para a próxima quarta-feira, 25, no
plenário da Câmara. Em reunião realizada na noite deste domingo, 22, com
Temer, no Palácio da Alvorada, ministros e líderes governistas
avaliaram que a votação de quarta representará o mais importante teste
de fidelidade da base e servirá para medir com quem o Palácio do
Planalto pode ou não contar de agora em diante.
Embora a ameaça
não esteja sendo feita publicamente, auxiliares de Temer afirmam que os
infiéis perderão cargos no governo, o que pode levar à necessidade de
uma reforma ministerial. O diagnóstico é que a pressão do Palácio do
Planalto servirá para parlamentares indecisos reavaliarem posições,
porque os partidos não vão querer perder postos estratégicos às vésperas
do ano eleitoral de 2018.
ESPECIAL: Os placares das denúncias contra Temer
A
maior incógnita, até agora, diz respeito ao PSDB. Em 2 de agosto, na
votação da primeira denúncia apresentada pelo então procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, contra Temer, por corrupção passiva, os
tucanos se dividiram. Na ocasião, 22 deputados do PSDB foram a favor do
arquivamento da acusação, mas 21 se posicionaram pela abertura do
processo no Supremo Tribunal Federal (STF). À época, afilhados políticos
de infiéis perderam cargos de segundo e terceiro escalões, mas os
tucanos foram poupados.
O PSDB comanda quatro ministérios
(Cidades, Secretaria de Governo, Relações Exteriores e Direitos Humanos)
e, desta vez, vai liberar o voto da bancada. O Planalto espera o apoio
da ala pró-Aécio Neves, já que o governo trabalhou para que os senadores
aliados mantivessem o mandato do tucano, que havia sido afastado do
cargo por decisão da Primeira Turma do Supremo.
Após muitas
articulações políticas, a equipe de Temer também acredita que o
governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), ajudará o Planalto na
quarta-feira, ao contrário do que fez na votação de 2 de agosto, quando
orientou a bancada a se posicionar contra o presidente.
Em
entrevistas recentes, Alckmin classificou a nova "flechada" de Janot
contra Temer como "inepta". A denúncia, por obstrução da Justiça e
organização criminosa, teve como eixo as delações do empresário Joesley
Batista e de outros executivos da J&F, além do depoimento do
corretor Lúcio Funaro, apontado como operador do PMDB. Os ministros
Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da
Presidência) também são alvo da investigação e foram denunciados por
organização criminosa.
Temer vai se reunir com líderes da base
aliada nesta segunda e terça-feiras. Dez ministros que são deputados já
foram exonerados temporariamente e retornaram à Câmara para ajudar o
governo e pedir votos a favor de Temer.
Pelas contas do Planalto, o
presidente pode ter agora cerca de 240 votos, 23 a menos do que os 263
obtidos quando a primeira denúncia foi apreciada na Câmara. Mesmo assim,
a avaliação é de que, passada essa etapa, o governo conseguirá
recuperar fôlego para retomar projetos importantes.
Com essa
expectativa, a equipe de Temer já prepara o "day after" da crise e vai
lançar o mote "Agora é Avançar". O slogan aparecerá em campanhas
publicitárias, discursos, programas e também nas redes sociais.
O
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem dito a Temer que é
preciso criar rapidamente uma agenda de desenvolvimento. Maia argumenta
que, com uma base fragilizada, será muito difícil votar propostas
polêmicas, como a reforma da Previdência, mesmo que ela se resuma à
redução da idade mínima para a concessão da aposentadoria e à quebra de
privilégios.
Padilha e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles,
insistem, porém, que as mudanças da Previdência entrem na pauta da
Câmara já em novembro, sob o argumento de que tudo ficará mais
complicado no ano eleitoral de 2018. Os dois sustentam, ainda, que, sem
essa reforma, as contas não fecham e não será possível retomar o
crescimento.
Além de Padilha e Meirelles, participaram da reunião
com Temer, neste domingo, os ministros Moreira Franco, Antonio Imbassahy
(Secretaria de Governo) e Dyogo Oliveira (Planejamento). Estavam
presentes, ainda, os líderes do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro
(PP-PB), e no Congresso, André Moura (PSC-SE), e o deputado Carlos Marun
(PMDB-MS), relator da CPI da JBS.
Estadão